terça-feira, 7 de agosto de 2007

PEÇA: UMA ESTÓRIA DE AMOR



Estará em cartaz nos dias 22, 23 e 24 de novembro, às 19 horas no auditório da Feuc...
Conto com vocês... Uns beijos.

sábado, 16 de junho de 2007

GOTA D'ÁGUA

1. Há uma apropriação de cenário, personagens e drama que Gota d'água faz de Medéia. A equivalência é de abstração, pois o contexto é outro. Assim:
a) Em que medidade Creonte é rei em Gota d'água como o era em Medéia?

b) Faça a mesma equivalência para as personagens Coro, em Medéia, e Vizinhas, em Gota d'água.

sexta-feira, 15 de junho de 2007

1.003 & 1.006

INFERNO NACIONAL
Stanislaw Ponte Preta

A historinha abaixo transcrita surgiu no folclore de Belo Horizonte e foi contada lá, numa versão política. Não é o nosso caso. Vai contada aqui no seu mais puro estilo folclórico, sem maiores rodeios.
Diz que era uma vez um camarada que abotoou o paletó. Em vida o falecido foi muito dado à falcatrua, chegou a ser candidato a vereador pelo PTB, foi diretor de instituto de previdência, foi amigo do Tenório, enfim... ao morrer nem conversou: foi direto para o Inferno. Em lá chegando, pediu audiência a Satanás e perguntou:
– Qual é o lance aqui?
Satanás explicou que o Inferno estava dividido em diversos departamentos, cada um administrado por um país, mas o falecido não precisava ficar no departamento administrado pelo seu país de origem. Podia ficar no departamento do país que escolhesse. Ele agradeceu muito e disse a Satanás que ia dar uma voltinha para escolher o seu departamento.
Está claro que saiu do gabinete do Diabo e foi logo para o departamento dos Estados Unidos, achando que lá devia ser mais organizado o inferninho que lhe caberia para toda a eternidade entrou no departamento dos Estados Unidos e perguntou como era o regime ali.
– Quinhentas chibatadas pela manhã, depois passar duas horas num forno de duzentos graus. Na parte da tarde: ficar numa geladeira de cem graus abaixo de zero até as três horas e voltar ao forno de duzentos graus.
O falecido ficou besta e tratou de cair fora, em busca de um departamento menos rigoroso. Esteve no da Rússia, no do Japão, no da França, mas era a mesma coisa. Foi aí que lhe informaram que tudo era igual: a divisão em departamento era apenas para facilitar o serviço dói Inferno, mas em todo lugar o regime era o mesmo: quinhentas chibatadas pela manhã, forno de duzentos graus durante o dia e geladeira de cem graus abaixo de zero pela tarde.
O falecido já caminhava desconsolado por uma rua infernal, quando viu um departamento escrito na porta: Brasil. E notou que a fila à entrada era maior do que a dos outros departamentos. Pensou com suas chaminhas: “Aqui tem peixe por debaixo do angu”. Entrou na fila e começou a chatear o camarada da frente, perguntando por que a fila era maior e os enfileirados menos tristes. O camarada da frente fingia que não ouvia, mas ele tanto insistiu que o outro, com medo de chamarem a atenção, disse baixinho:
– Fica na moita, e não espalha não. O forno daqui está quebrado e a geladeira anda meio enguiçada. Não dá mais de trinta e cinco graus por dia.
– E as chibatadas? – perguntou o falecido.
– Ah!... o sujeito encarregado desse serviço vem aqui de manhã, assina o ponto e cai fora.
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1.002

SEREIA
Lulu Santos
Clara como a luz do sol
Clareira luminosa nessa escuridão
Bela como a luz da lua
Estrela do oriente nesses mares do sul
Clareira azul no céu, na paisagem
Será magia, miragem, milagre
Será mistério.

Prateando horizontes
Brilham rios, fontes,
Numa cascata de luz.

No espelho dessas águas
Vejo a face luminosa do amor
As ondas vão e vêm
E vão e são como o tempo.

Luz do divinal querer
Seria uma sereia ou seria só
Delírio tropical, fantasia ou será
Um sonho de criança sob o sol da manhã.
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quinta-feira, 14 de junho de 2007

MILHO COZIDO - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

MILHO COZIDO
Carlos Drummond de Andrade
A primeira vez que eu vi alguém na rua comer milho cozido, confesso que me espantei. A segunda, não estranhei tanto. A terceira, tive tentação de pedir-lhe:
– Desculpe, moça. Posso provar um tiquinho?
Porque era moça, por sinal bem-apanhada. Não pedi, infelizmente. Ou felizmente, porque ela não só me recusaria o pedido como poderia mesmo estranhá-lo, achando-me atrevidão. Refleti logo como havia entre nós a distância infinita de algumas gerações, pois ela fazia o que eu gostaria de fazer e não tinha coragem, nem mesmo nunca pensara nisso: saborear na rua uma tentadora espiga de milho verde.
E daí, quem sabe se toparia? Garota moderna, desinibida, comendo quando lhe apetecia, natural que compreendesse o desejo de alguém, despertado da visão do milho bom de comer. Se não topasse, a distância entre nós não seria tão grande assim: apenas moça preconceituosa, incapaz de compreender que minha intenção era simplesmente provar do milho, e não arranjar pretexto para aproximação, com fins obscuros e suspeitos.
Embaraçado, limitei-me a olhá-la com o rabo do olho, pois íamos no mesmo frescão, ela ao meu lado, e era impossível não tomar conhecimento daquele pausado e delicado comer um milho que vinha de antiqüíssimas fazendas da minha lembrança... um milho tão recuado, tão perdido em brumas do século, sem mais nem menos viajando comigo naquele ônibus, trincado pelos dentes da moça, que o comia com muita desenvoltura e ao mesmo tempo com muita classe.
Ela, é claro, nem se dignava a tomar conhecimento de mim, com essa faculdade admirável que têm as mulheres de estarem ausentes na mais indubitável presença. E dava uma mordidinha e parava e recomeçava, atenta ao ritmo e às boas maneiras. Nada mais natural, mais civilizado, sem provocação aos últimos defensores de que comer num coletivo é falta grosseira de “berço”.
A espiga consumia-se. Eu sempre com vontade de provar, e mudo e quedo na minha inibição. Não tinha olhos de cão pedinte, não ousaria tanto, mas comecei a duvidar da inteligência e do coração da moça. Então ela não via que ao seu lado estava um senhor carente e desejante de comer daquele milho, e que lhe custaria renunciar a uns poucos grãos, para satisfazer tão humilde carência? Eu era um desconhecido, sim, mas o desconhecido deixa de sê-lo a um rápido olhar de benevolência e duas ou três palavras reveladoras.
Só em Botafogo me ocorreu que podia repugnar-lhe a idéia de a espiga passar por duas bocas. Em Copacabana, perto de dois terços de espiga tinham-se desnudado; no Leblon terminaria a refeição, pelo esgotamento da peça. Não pude deixar de admirar a competência da moça, que nem se atrasava nem se afobava. Parecia até que cronometrara o ato de comer pela duração da viagem de ônibus. Se morasse em São Conrado, destruiria duas espigas? O fato é que degustava calma e delicadamente o glúten, o amido, as proteínas, ou, para falar verdade, o sabor da mistura, sem identificação de elementos. O milho deixava-se papar, talvez agradecendo a delicadeza com que era papado. Escapara do carrinho do vendedor ambulante para cair nos dentes de uma bela moça egoísta que nem sequer se lembrava de que pertinho dela um senhor de origens rurais passara a ter subitamente imperiosa necessidade de comes milho verde, milho assado, milho cozido, qualquer variedade ou modalidade de milho, e elas são milhares.
Ah, por que não fiz o que era tão fácil de fazer, passar na carrocinha e comprar a minha espiga, mostrar à moça que também eu apreciava essa comidinha despretensiosa e amável? Mas como, se eu não tinha, minutos antes, a menor tentação de comer milho, e só a sentira ao ver a moça? Seria autêntica essa tentação, ou eu me comportava como reles imitador de gestos alheios, sem correspondência com a massa dos meus gestos habituais, normalmente programados? Na dúvida, arrisquei-me a olhá-la sem cerimônia, direto, quase provocador. Não deu sinal de perceber minha indiscrição. Comendo estava, comendo continuou, na mesma toada. E o milho acabando. E eu sentindo que a essa altura já não adiantava pedir nada à moça. Na melhor hipótese me estenderia o sabugo despojado, com um ou dois grão de sobejo, irônicos. E já ia passando a minha vontade de comer aquele milho daquela espiga, Deus (ou o Diabo) sabe lá por quê. Em vão procurara me iludir pensando num milho anônimo, genérico, universal. Se a moça retirasse da bolsa outra espiga e a oferecesse à minha gula, não me apeteceria. Aquela é que despertara em mim o desejo manducativo, ligado a fortes e escondidas subjacências temporais. A moça desceu antes de mim, depois de embrulhar cuidadosamente o sabugo em papel fino e guardá-lo na bolsa. Continuei, já agora de estômago saciado. Eu comera toda a espiga de milho.
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quarta-feira, 13 de junho de 2007

CLÁUDIO MANUEL DA COSTA: SONETO V

V
Se sou pobre Pastor, se não governo
Reino, nações, províncias, mundo e gentes;
Se em frio, calma e chuvas inclementes
Passo o verão, outono, estio, inverno;



Nem por isso trocara o abrigo terno
Desta choça, em que vivo, co'as enchentes
Dessa grande fortuna: assaz presentes
Tenho as paixões desse tormento eterno.



Adorar as traições, amar o engano,
Ouvir dos lastimosos o gemido,
Passar aflito o dia, o mês, e o ano,



Seja embora prazer; que a meu ouvido
Soa melhor a voz do desengano,
Que a torpe lisonja o infame ruído.
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A palavra "verão", presente no quarto verso da primeira estrofe, parece estar usada aqui como PRIMAVERA; do latim VER, VERIS, que significa PRIMAVERA (como em Virgílio, GEÓRGIAS, 1, 43). Péricles Eugênio da Silva Ramos a dá como tal, em sua edição dos POEMAS DE CLÁUDIO MANUEL DA COSTA (Cultrix, S.P., 1966, p. 185, n. 4).

sábado, 9 de junho de 2007

BUDAPESTE: ROMANCE METALINGÜÍSTICO





1.



O romance Budapeste de Chico Buarque de Hollanda, publicado em 2003, expõe a história de amor de um escritor, o narrador José Costa, pela palavra e por Kriska [personagem húngara]. Trata-se de uma história de amor cheia de idas e vindas morais, mnemônicas, éticas e estéticas, cuja realização amorosa se dá através da palavra, na palavra, num romance moderno, circular e metalingüístico, magistralmente tecido em literaturas.




O romance é dividido em sete partes, a saber:






  1. "Devia ser proibido";
  2. "No caso das crianças";
  3. "Eu nunca tinha visto";
  4. "Havia nevascas";
  5. "Grande senhor";
  6. "Ao som de um mar";
  7. "Escrito aquele livro".




Em verdade, não há grandes implicações semânticas nos títulos desses capítulos, uma vez que cada conjunto de frases são partes integrantes do parágrafo que abre respectivamente cada capítulo. A narrativa flui tão linearmente que quase somos levados a acreditar que ter ou não ter divisões em nada implicaria à obra. Mas, ainda que sutil, as sequências são relevantes à estrutura do romance e implicam uma leitura mais apurada na tentativa de entender cada uma delas e as relações com o todo: o romance.

Antes de entrarmos no mérito de cada sequência narrativa, importa-nos atentar para o fato de que há pelo menos duas Budapestes na tessitura: uma na enunciação e outra no enunciado. O que torna complexa a leitura interpretativa do título do romance: Budapeste.

2.

O primeiro capítulo do romance não é na verdade o começo da história... ( Esse ensaio está sendo escrito ainda... em breve estará na íntegra aqui.)