quarta-feira, 13 de junho de 2007

CLÁUDIO MANUEL DA COSTA: SONETO V

V
Se sou pobre Pastor, se não governo
Reino, nações, províncias, mundo e gentes;
Se em frio, calma e chuvas inclementes
Passo o verão, outono, estio, inverno;



Nem por isso trocara o abrigo terno
Desta choça, em que vivo, co'as enchentes
Dessa grande fortuna: assaz presentes
Tenho as paixões desse tormento eterno.



Adorar as traições, amar o engano,
Ouvir dos lastimosos o gemido,
Passar aflito o dia, o mês, e o ano,



Seja embora prazer; que a meu ouvido
Soa melhor a voz do desengano,
Que a torpe lisonja o infame ruído.
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A palavra "verão", presente no quarto verso da primeira estrofe, parece estar usada aqui como PRIMAVERA; do latim VER, VERIS, que significa PRIMAVERA (como em Virgílio, GEÓRGIAS, 1, 43). Péricles Eugênio da Silva Ramos a dá como tal, em sua edição dos POEMAS DE CLÁUDIO MANUEL DA COSTA (Cultrix, S.P., 1966, p. 185, n. 4).

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